Na parte da manhã, dois painéis movimentaram os auditórios do Centro de Convenções Salvador. No primeiro, o painel “Parlamento e Economia Popular e Solidária” foi conduzido por parlamentares federais, estaduais e municipais, além de representantes da Secretaria Nacional de Economia Popular e Solidária (Senaes) e de fóruns da sociedade civil. O debate reforçou que leis e políticas permanentes são fundamentais para alavancar o setor.
Simultaneamente, o painel “Inclusão e Geração de Renda nos Festejos e Eventos Populares” lançou um olhar para a relevância das manifestações culturais como espaços de trabalho, renda e identidade. Representantes da Fundação Banco do Brasil, Fundação Palmares, capoeira, maracatu, gastronomia periférica e iniciativas de coleta seletiva compartilharam experiências e desafios.
A programação formativa contou com oficinas sobre tecnologia social, inovação, economia digital e experiências de financiamento. Destaque para a atividade conduzida por Dayvid Souza, do Instituto Federal Goiano, que abordou inovação na economia popular; e para a série de formações promovidas pela Shopee, voltadas à capacitação de empreendedores digitais e vendas solidárias.
À tarde, as discussões se voltaram para as cadeias produtivas e o papel da agricultura familiar no desenvolvimento local. No painel “Economia Solidária e Agricultura Familiar”, participaram representantes de redes de produtores, movimentos do campo e instituições públicas.
Paralelamente, o painel “Outra Economia é Possível” debateu o Sistema Nordestino de Finanças Solidárias, com experiências de fundos rotativos, bancos comunitários e crédito cooperado — com participação da Secretaria Executiva do Ministério da Fazenda. Joaquim Melo, um dos fundadores do Banco Palmas, relembrou a origem do primeiro banco comunitário do Brasil e a descrença que o projeto enfrentou.
“Há 27 anos, criamos o Banco Palmas, o primeiro banco comunitário do Brasil, com a primeira moeda social. E todo mundo dizia: ‘isso não dura três meses. Uma comunidade criar um banco e uma moeda, uma moedinha social — olha que palhaçada’. Eles não sabiam da resistência e da coragem do povo nordestino. Hoje, no Brasil, somos 182 bancos comunitários", relatou Joaquim.
Ele também apresentou dados sobre o impacto do modelo: “Mobilizamos, em compras no comércio local — do Ceará e do Brasil inteiro —, um bilhão de reais. E não foi por aventura: esse recurso foi direto para a produção, para o pequeno negócio, para o pequeno comércio. Isso é economia solidária na prática.” Ao encerrar, reforçou os avanços do setor: “Temos uma plataforma digital dos bancos comunitários que não deve nada à do Itaú ou do Bradesco. Só que essa é nossa. Essa é da economia solidária. É a partilha da riqueza.”
A Fundação Banco do Brasil também compartilhou, em oficina, sua metodologia de editais de fomento, com foco na inclusão produtiva de base comunitária.
As manifestações culturais seguiram integradas à programação. Pela manhã, o público foi recepcionado ao som da capoeira. O Tambor de Crioula do Maranhão e os Filhos de Gandhy também se apresentaram e reforçaram o vínculo do festival com as raízes culturais da região. Os demais shows da noite ficaram por conta de Juliana Linhares (RN), com o projeto Nordeste Ficção, e do cantor pernambucano Otto, que encerrou a sexta-feira com seu repertório recheado de influências nordestinas e sonoridades contemporâneas.
“O Nordeste é o meu país, é o meu mundo, é nossa cultura, é nossa arte, é o povo”, declarou Otto. A fala sintetizou o espírito do festival, que valoriza as expressões artísticas como parte indissociável da construção de um projeto de desenvolvimento solidário e sustentável para a região.
O Brasil Nordeste – 1º Festival de Economia Popular e Solidária é uma iniciativa do Governo do Estado da Bahia, por meio das secretarias do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), e do Desenvolvimento Econômico (SDE), e apoios do Instituto Federal da Bahia (IFBA), do Centros Públicos de Economia Solidária da Bahia (CESOL). O evento é produzido pela MK Produções e tem como correalizadores Caderno 2 Produções, Polo Cultural, Associação de Assistência à Produção e ao Desenvolvimento Sustentável (AAPDS), Organização de Estados Ibero-americanos (OEI) e Open Society Foundations (OSF), com Patrocínios de Shopee, Sebrae, Fundação Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Caixa, e de Bahiagás, através da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. Realização do Consórcio Nordeste, Ministério do Empreendedorismo e da Empresa de Pequeno Porte, Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome e Ministério da Cultura do Governo Federal.